Há dias eu queria voltar a postar aqui. Pensei em diversos assuntos que eu poderia abordar de forma divertida, interessante, mas nada me ocorreu.
Mas, eis que hoje eu venho aqui para me lamentar.
Sim,
lamentar.
Hoje, passei o dia todo com um nó na garganta. Com uma tristeza profunda. Com uma dor imensa dentro de mim.
Ontem, o nosso
respeitabilíssimo Supremo Tribunal Federal acabou com a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista.
Na prática, isso é um tremendo
desrespeito. Desrespeito com todos aqueles que, como eu, dedicaram quatro anos de suas vidas à realização de um sonho, aos estudos com todo o esmero possível em busca de ser um bom profissional, de fazer a diferença na própria vida e na vida das outras pessoas.
Os ministros do STF, ao derrubar essa exigência, pisaram nos estudiosos da comunicação, nos professores, nos tantos universitários que querem aperfeiçoar-se.
Engraçado como os representantes do órgão máximo da
"Justiça" brasileira demonstraram tamanha desinformação e menosprezo por uma das profissões mais importantes atualmente.
Uma decisão como esta certamente acabou com os sonhos de muita gente, que assim como eu, pensava em se especializar, em estudar mais e mais, em seguir uma carreira respeitável.
Hoje, sinto como se quase todos os meus planos de vida tivessem desmoronado. Não tenho mais motivação alguma para buscar uma pós-graduação, quem sabe mestrado ou doutorado. Para quê? Se amanhã qualquer
semi-analfabeto que terminou o Ensino Médio aos trancos e barrancos pode se auto-intitular jornalista?
Para que meu pai investiu tanto dinheiro e eu empenhei tanto esforço e suor numa faculdade que agora é a mesma coisa que nada?
Como é que se levanta de manhã para trabalhar motivado, se corremos o risco de perder as poucas conquistas que temos... que são um piso salarial meia boca e uma jornada de trabalho de cinco horas diárias?
Hoje, graças a essa decisão
descabida, eu não duvido que muitos donos de empresas de comunicação prefiram trocar boa parte do seu quadro de jornalistas por qualquer bando de zés-ninguéns que, por saberem malemal assinar o nome, aceitarão trabalhar por uma mixaria. Mas eles poderão
assinar as matérias.
Uma
conquista que eu levei
quatro árduos anos para alcançar: ter meu nome nas páginas do jornal, acima de uma matéria de minha autoria, fruto da minha capacidade intelectual, somatório de conhecimentos acumulados, de estudos, de trabalhos, de noites mal dormidas, de estágios mal remunerados, de dores nas costas e do sacrifício do meu pai em pagar a mensalidade.
Eu sei que pode parecer que estou perdendo o foco, ou dramatizando a situação... mas imaginem se fosse com a profissão de vocês. Imagine se qualquer um que sabe "fazer contas" pudesse ser considerado administrador, ou contabilista. Se qualquer um que lesse por conta própria um Código Penal pudesse ser advogado. Se qualquer um que desenha bem pudesse ser arquiteto sem a devida formação. Se qualquer pedreiro pudesse se auto-intitular engenheiro civil. Já imaginaram?
Ao contrário do que muitos pensam, escrever não é fácil.
Escrever é complexo. Conhecer as regras de gramática é uma tarefa árdua. Saber organizar as frases, concatenar as ideias, escrever de maneira coerente e coesa não é para qualquer um. Desculpem-me se pareço arrogante. Mas
não é para qualquer um. Não basta ter dom.
Jornalismo é, sim, técnica, padrão, estudo, ciência.
Jornalismo é coisa muito mais séria que alguns cabeças-de-abacate pensam. Não é fácil colher as informações e traduzi-las de forma que todos que leiam entendam. Isso que estou apenas citando o meu caso, de repórter de jornal impresso. Sem contar os de televisão, que precisam ter um texto atraente para o telespectador, e ainda se preocupar com as imagens que casarão perfeitamente ao texto. E ao jornalista de rádio, que precisa passar sua mensagem de forma clara, sucinta, e ao mesmo tempo fazer com que seu ouvinte consiga visualizar a notícia, ter a dimensão real do fato.
Não vejo demérito nenhum do jornalista em detrimento a um médico, engenheiro, advogado, dentista, e tantas e tantas outras profissões. Todas são igualmente importantes, cada qual no seu segmento, cada uma complementando a outra. Mas é preciso saber respeitar as peculiaridades de cada uma.
Não se iludam. Esse papo de
"liberdade de expressão" é a maior
balela que eu já ouvi na minha vida. Hoje em dia qualquer um pode tornar públicas suas ideias. Os blogs e diversas outras ferramentas estão aí para isso. Jornalismo é diferente. É acima de tudo um
serviço à população.
Quero fazer pequenos comentários abaixo sobre os absurdos, os dispautérios que os ministros, pessoas de
notável sapiência, disseram, ao tentar justificar sua decisão ridícula, patética, e vergonhosa:
Relator do processo, o presidente do STF, Gilmar Mendes, concordou com o
argumento de que a exigência do diploma não está autorizada pela Constituição.
Para ele, o fato de um jornalista ser graduado não significa mais qualidade aos
profissionais da área. “A formação específica em cursos de jornalismo não é meio
idôneo para evitar eventuais riscos à coletividade ou danos a terceiros.”
Pois é. A graduação, de fato, não garante a qualidade dos profissionais. Mas em nenhuma profissão, não apenas no jornalismo. Agora, se com diploma exigido vemos tantos pseudo-analfabetos por aí sendo jornalistas, imagine agora, com essa liberação incabível.
Os ministros Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello seguiram o voto do relator. Único a votar pela exigência do diploma, Marco Aurélio Mello disse que qualquer
profissão é passível de erro, mas que o exercício do jornalismo implica uma
“salvaguarda”. “Penso que o jornalista deve ter uma formação básica que
viabilize sua atividade profissional, que repercute na vida do cidadão em
geral”, argumentou Mello.
Ministro Marco Aurélio Mello, o senhor foi o único sensato nas suas declarações.
Em seu voto, Gilmar Mendes sugeriu que os próprios meios de comunicação exerçam o mecanismo de controle de contratação de seus profissionais. Ele comparou ainda a profissão de jornalista com a de chefe de cozinha. “Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional
registrado mediante diploma de curso superior nessa área”, comparou.
Para mim, está muito óbvio que aí tem rabo preso com os donos dos meios de comunicação. Era tudo o que eles queriam. Agora, eles podem demitir quem eles quiserem, se livrar dos formados, e adquirir mão-de-obra barata. Não tão boa, mas quem está preocupado com a qualidade da informação? Pelo jeito, ninguém.
Quando a essa comparação do cozinheiro, eu acho que ela vem bem a calhar. Um chef de cozinha pode até não precisar necessariamente ser formado em uma universidade, mas os melhores são aqueles que buscam o aperfeiçoamento profissional sempre. Ou você não teria medo de comer uma comida feita por uma pessoa que não sabe a diferença entre champignon e cogumelos tóxicos? A informação também pode ser um fino champignon ou uma ramaria.
“O Poder Público não pode restringir, dessa forma, a liberdade profissional no
âmbito da culinária. Disso ninguém tem dúvida, o que não afasta a possibilidade
do exercício abusivo e antiético dessa profissão, com riscos eventualmente até à
saúde e à vida dos consumidores”, acrescentou Mendes, que disse acreditar que a
decisão desta quarta não vai contribuir para o fechamento de faculdades de
comunicação social.
E o excelentíssimo presidente do Supremo sai disparando mais besteiras... Eu mesma, se ainda estivesse na faculdade, largaria já. Afinal, para que eu vou me dedicar tanto se existe uma população inteira de concorrentes sem o menor preparo?
Entre estas e outras barbaridades, as afirmações foram tão repugnantes, que nem parecem de membros da suprema corte, detentores de tanto conhecimento.
Acho que eles não sabem a diferença entre articulista de jornal, colunista, e repórter... E agora, ficará menos evidente ainda, pois algumas pessoas sequer têm um nome a zelar.