Às vezes, eu penso que sou uma pessoa meio sem sentimentos. Ou pelo menos sentimentos bons.
Mas, outras vezes, eu acho que sou sentimental demais. Tem horas que eu choro sem motivo aparente. Choro de saudade.
Saudade de tempos passados, de coisas e pessoas que passaram pela minha vida. E também choro de saudade de quem ainda está aqui.
Choro de saudade dos meus pais, mesmo ainda morando com eles. Choro por perceber que não consigo me aproximar de muitas pessoas, porque a minha intolerância é grande.
E às vezes eu me sinto sozinha. Mas sei que boa parte dessa culpa é minha mesmo.
Até algum tempo atrás, eu estava com muita vontade de sair de casa. Brigas constantes com a minha mãe, a falta de privacidade, entre outras coisas, me faziam querer me isolar, ter um canto só meu.
Até um dia em que eu e meu namorado saímos com um casal de amigos nossos. Na verdade, ela era uma das minhas melhores amigas, e nossos respectivos namorados, muito queridos, estavam, por nós, se enturmando e, felizmente, se tornando ótimos amigos também. Naquela noite, em meio a muita conversa boa, risadas e cerveja, tocou o celular do namorado dela. Era o irmão dela. Ele tinha uma notícia horrível para dar: os pais de uma superamiga dela haviam acabado de falecer, juntos, num acidente de carro. Eu não conhecia a menina, mas nos oferecemos para ir junto com eles até a casa da garota e do seu irmão, para dar uma força, porque ela estava muito abalada.
Quando eu cheguei à casa da menina, tive uma das visões mais chocantes da minha vida: o choro desesperado e de uma dor absurda dela e do irmão dela, que já estava passando mal e precisou ser acudido pelos amigos.
Naquele momento, era como se eu sentisse a dor deles. Naquela hora eu percebi o quanto nós somos frágeis e o quanto nos preocupamos com coisas tão pequenas diante da vida e da morte. Depois daquele momento, eu nunca mais fui a mesma, pelo menos por dentro.
Pouco tempo depois, meus pais e meu irmão viajaram de férias, foram para a praia. E eu fiquei em casa sozinha, por quase 30 dias, pois não tirei férias no trabalho. E todos os dias eu sentia uma dor imensa, imaginando a terrível possibilidade de perdê-los.
Eu sei que meu pai dirige bem e é muito cuidadoso, mas os mais de mil quilômetros de estrada me assustaram como nunca. E eu acho que nunca rezei tanto na vida como naquela época, pedindo que Deus os protegesse.
Eu não tinha medo de ficar sozinha em casa, chegar de madrugada, nada. Até que eu me viro bem como "dona" de casa. Eu tinha medo de ficar sozinha para sempre. Tinha medo que acontecesse alguma coisa com eles. Eu lembrava a todo instante daquela menina que eu vi provavelmente no pior momento da vida dela.
A casa, vazia e silenciosa, parecia absurdamente grande. Era como se faltassem três pedaços de mim. O sentimento de liberdade transformou-se em solidão. Em uma longa e dolorosa espera.
Graças a Deus, nada aconteceu com os meus pais. Eles voltaram sãos, salvos e felizes, após um merecido descanso e de férias maravilhosas. Mas a saudade que eu senti nesse tempo doeu demais.
Depois disso, de toda a solidão e do vazio que eu sentia sem eles aqui, eu nunca mais pensei em sair de casa. Não quero. Esse negócio de viver sozinha não é para mim, definitivamente. A menos que eu precise, que eu vá para outra cidade por algum motivo. Mas eu não vou sair da casa dos meus pais para morar sozinha na mesma cidade que eles. Não vou cometer essa crueldade, pois eu sei que isso os magoaria — e talvez eles sofressem mais que eu.
Porque embora eles não sejam perfeitos, afinal são humanos como todo mundo, e embora nós tenhamos muitas diferenças, eu sei que não posso viver sem eles. Não existem palavras para descrever o quanto eles são importantes para mim, o quanto eu preciso deles. Não em termos financeiros, mas em termos de amor e aprendizado.
Nas pequenas coisas do dia-a-dia, eu aprendo a admirá-los cada dia mais, e embora eu nunca consiga demonstrar o suficiente, eu tenho muito orgulho deles. De tudo que eles fizeram por mim. E se alguém disser que me admira, tem que dizer primeiro que admira a eles, porque eu sou apenas o reflexo de tudo o que eles me ensinaram.
Aliás, sinto-me uma privilegiada por tê-los comigo, por ser cuidada por eles mesmo depois de "marmanja". O que mais quero é um dia poder retribuir tudo o que eles sempre fizeram por mim. Quero que eles tenham orgulho da pessoa que me tornei. Esse, na verdade, é o meu objetivo de vida.