Emptiness.

Eu comi. E o vazio não era fome. Eu dormi. E a moleza no corpo não era sono.
Eu me diverti. Mas a inquietação não era tédio. Eu namorei. Mas as lágrimas não eram de saudade.
No fundo, uma coisa não preenche o vazio da outra. Que, neste caso, foi a demissão inesperada.
Dois anos e dois meses dedicados a uma empresa. Sábados, domingos, feriados. Manhã, tarde e noite. Natal, aniversário, dia das mães. Não tinha dia e não tinha hora. Quando fosse preciso, lá estava eu, funcionária dedicada, sempre perfeccionista, sem medir esforços para cumprir a missão de cada dia.
Mas uma crise administrativa balançou completamente as estruturas da empresa há pouco mais de seis meses. Salários sempre atrasados foram deixando o clima tenso. Os problemas da administração interferiram na vida dos funcionários e transformaram o dia a dia num verdadeiro inferno.
Colegas de cara virada por pura incompreensão e egoísmo. O medo rondando. A paranoia constante.
Até que um belo dia o chefe me chama em sua sala. "Haverá muitos cortes. Mas você não precisa se preocupar, pois o critério será a competência, e você é a pessoa para quem olhamos como tendo uma trajetória de crescimento aqui dentro", foram suas palavras.
Saí aliviada, apesar da tristeza de saber que alguns colegas teriam seus empregos tirados.
Porém, coisas estranhas aconteceram. Pressões de todo lado. E de repente eu entrei na lista.
"Temos que fazer cortes, e sairão os mais novos", a funcionária do Financeiro falou. "Se fosse por critério de competência, você não estaria na lista, mas infelizmente não temos como pagar a rescisão dos antigos", o auditor completou.
Nessa hora, a competência e a dedicação não valeram nada. Só enxergaram em mim (e em mais alguns desafortunados) as sifras. E uma conversa de cinco ou dez minutos — mas que pareceu uma eternidade — virou minha vida de ponta cabeça.
Ainda voltei para minha mesa, terminei o que estava fazendo e comecei a recolher meus poucos pertences. Uma caneca, agendas, um enfeitinho de mesa, uma garrafinha de beber água, e mais alguns objetos sem muita importância. Em meio à sensação de "estar perdida", sem saber o que fazer, esqueci alguns arquivos no computador, dos quais precisarei, e mais alguns objetos pessoais.
Não cumprirei aviso prévio. Cheguei para trabalhar num dia normal, e ao final dele me despedi de alguns colegas queridos sem poder dizer o tradicional "até amanhã".
O choro era iminente, e saí meio correndo antes que isso acontecesse.
Todos me dizem para manter a calma, que sou competente e logo encontrarei outra coisa (ou "algo melhor", como insistem em argumentar). Pode até ser. Mas o choque foi grande. E demonstrou o quanto a contabilidade de uma empresa pode ser cruel — e pode sacrificar sonhos, projetos, massacrar a autoestima e a autoconfiança, desestabilizar uma vida...
No fim, that's all about money.
Sou sempre eu mesma, mas não sou sempre a mesma!.
 
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